Boato - Abracadabra (1998)

*BOATO (do latim "boatu", mugido ou berro de boi) - substantivo masculino. Notícia anônima que corre publicamente sem confirmação, boatice, atoarda, balela, falaço, ruído, rumor, voz, zunzum, zunzunzum.

Não foi à toa que o grupo de sete poetas formado em 1989 adotou este nome. O humor, a subversão e o poder de comunicação dos boatos são suas principais características. O BOATO começou fazendo performances poéticas nas universidades cariocas, espaços públicos e no CEP 20.000 - evento mensal realizado por Chacal no Espaço Cultural Sérgio Porto - virou banda e agora lança o CD ABRACADABRA.

Mas o disco não veio num passe de mágica. É resultado de experiências em diversas linguagens. " BOATO - uma autodefinitude", curta-metragem dirigido e produzido pelo grupo, que conta com a participação de Hermeto Pascoal, foi premiado em dois festivais -Prêmio Panda no IX Riocine Festival e Tatu de Bronze na XIX Jornada Internacional de Cinema da Bahia. A peça " Mundo Animal ", encenada no porão da Casa de Cultura Laura Alvim, tratava de loucura e poesia, tendo como atração textos de Estela, interna da Colônia da Juliano Moreira. Outra experiência fundamental foi o trabalho com os internos de hospitais psiquiátricos como o Pedro de Alcântara, O Pinel e o Pedro II ( Cazé Pecini, hoje VJ da MTV, também participava dessas apresentações ). Seu poema " Camisa de força " foi musicado pela banda e é uma das faixas do CD.

Em 1993, Cabelo, Dado, Celão, Montanha, Justo e Beto sentiram a necessidade de formar uma banda para expandir sua mensagem através das canções que já estavam compondo como " Marginália pela paz ". Samuel, o sétimo integrante, saiu do grupo. No disco, ele interpretou seu poema " Macunaíma ". O cantor e compositor Pedro Luis foi convocado para a supervisão musical, assumindo a guitarra. Brasil e Jacutinga entraram para completar o time. Rapidamente, os três incorporaram o espírito do BOATO, unindo sua música aos instrumentos inusitados do grupo. Quando Pedro saiu para fazer carreira solo, Léo, irmão de Cabelo e ex-roadie da banda, entrou em seu lugar.

O " Terreiro-Pop " do BOATO rodou o circuito carioca. Músicas como " Berro da cabra ", " Xuxa Preta " e " Jesus ", alegraram platéias do Circo Voador, Mistura Fina, Rock in Rio Café, Ballroom, Hipódromo Up e tantos outros, sempre com casa cheia. A canção " Cidade em Movimento ", de Cabelo, Beto e Pedro Luis foi gravada pelo Cidade Negra em seu disco " O Erê ".

O sucesso dos shows levou a banda para o estúdio através da WEA/Dubas. Produzido por Tom Capone e pelo próprio BOATO, o cd " ABRACADABRA " chega às lojas incluindo músicas, poemas, citações da Bíblia. Pedro Luís, parceiro em várias canções, co-produziu quatro faixas e ainda aparece cantando o "Rap do Cartão Postal ". O caldeirão do BOATO põe para ferver ritmos como o reggae, o rock, o xote e o funk com uma boa dose de punk e pitadas de música étnica. Alquimia pop faz deste album a concretização da profecia de Oswald de Andrade, " biscoito fino para a massa ".

Após o divulgação do primeiro cd, com shows em várias capitais, o albúm ABRACADABRA foi lançado também no Japão. E algumas mudanças vieram. O Boato inicia o ano de 2000 com nova formação. Mais enxuta. Com a saída de Brasil, Montanha e Beto e a chegada de Edson Menezes o time voltou a ter 7 componentes como nos primeiros tempos. Nesse momento, mesmo sem contrato formal com alguma gravadora, está em estúdio trabalhando o repertório de seu segundo CD com supervisão musical de Lulu Santos que traz músicas como " Noite Sutil ", parceria com o poeta Charles Baudelaire, uma estória de abdução em " Não és humana ", personagens como Sidarta, o profeta Gentileza e Mayakovsky. O grito guerreiro de " Índio quer apito " e a presença marcante da poética do grupo em " Não ao desperdício " e " Perna da boneca ".

BOATO é: Cabelo ( voz ), Léo ( guitarra ), Dado ( teclados e vocais ), Edson Menezes ( baixo ), Jacutinga ( bateria ), Celão ( percussão ) e Justo ( pajelança e vocais )

Textos extraidos do site da banda

"Disseram que algo ia acontecer. BOATO.
Disseram que o milênio não ia morrer sem a derradeira luz. BOATO.
Sou suspeito prá falar desses caras. São da família. Que vem de Homero. Do aedo mais longínquo. Vêm das farras da terra. Do júbilo de ser e cantar. Vêm das arenas onde encaram o leão, entoando loas à leoa. Vêm dos menestréis saltimbancos interrompendo o trânsito na velha Veneza. Eles ergueram catedrais ao ser que anda na poeira. Depois vieram, estirpe de andarilhos vagabundos que inspiram Dylan, fazer bagunça neste século de olhos injetados.
O BOATO é um grupo de inventores. Eles navegam entre a poesia, a música, a dança, o cinema, as artes plásticas com a mesma desenvoltura e a mesma simplicidade de quem respira. Como diz Cabelo, cantor e compositor do BOATO, que participou da X documenta de Kassel, um dos mais prestigiados eventos de artes plásticas do mundo, onde sua performance com um aquário causou perturbação: "Nessa civili9zação produtora de dejetos materiais e imateriais, o BOATO faz como as minhocas. Digere o lixo e transforma em húmus".
Suas apresentações são um show à parte. Incorporam à cena tudo que entra na energia deles; poetas, loucos, mendigos, morenas maravilhosas, meninos de rua, latas, apitos, fogo, fuzarca. Aprenderam tudo com o Velho Guerreiro, Chacrinha, de quem herdaram as roupas, arrebatadas em leilão por cinco mariolas. Assimilaram o que Hermeto Pascoal entende por música ou o que o Bispo do Rosário desentende por arte. Assim, armados até os dentes de invenção, passaram da percussão e do verso aleatório para o maravilhoso mundo dos instrumentos musicais. Foi um passo que só dá quem sabe que quando se quer, tem que se conquistar. O BOATO soube. O BOATO quis. O BOATO conquistou. Antropologia visceral desses guerreiros cordiais. Salve Boataria. Vocês chegaram. Evoeh!"

Chacal - POETA

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