quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Comadre Fulozinha - Tocar na banda[2003]



Três mudanças importantes ocorreram entre o primeiro e o segundo disco deste grupo formado em 1997. Para começar, o nome: Florzinha transformou-se em Fulozinha. A seguir, a formação: de sexteto, reduziu-se à dupla de cantoras percussionistas Karina Buhr e Isaar de França. Por fim, o repertório. Em Comadre Florzinha (1999), predominavam músicas de domínio público, enquanto neste Tocar Na Banda, investe-se principalmente em material original. Contudo, o som em si não se alterou. Permanece naïve e fincado nos ritmos populares do Nordeste.

Das quatorze faixas, entre vocais e instrumentais, Karina Buhr assina seis e Isaar de França, duas. Há ainda "Obá", de Erasto Vasconcelos (Eddie); "É Ou Não É", da dupla Venâncio e Corumba e a excepcional versão de um clássico do paulistano Adoniran Barbosa, que termina por dar título ao disco. Essa faixa, sem dúvida a melhor do trabalho, é interpretada pelas comadres com deliciosa ironia: "Tocar na banda / Pra ganhar o quê? / Duas mariolas e um cigarro Iolanda".

Competentes tanto na percussão quanto na voz, Karina e Isaar são diametralmente opostas. Por isso complementam-se, tanto no plano visual - sim, o visual é importante - quanto no musical. De outra forma, o resultado poderia até ficar maçante, especialmente para quem não é chegado à música de raiz. Isaar tem voz crua, de gueto, aguda e potente mas algo insegura; Karina é suave e treinada, preferindo os registros médios. As diferenças entre elas são especialmente notáveis em "Amaralina" e "A Cidade Tá Subindo", solos de Karina e Isaar, respectivamente.

O problema - não para nós mas para elas - é justamente o alcance limitado do Comadre Fulozinha. O grupo é uma idéia heróica, principalmente quando se resume à uma dupla. Não há como escapar do fato de que a música delas, com um molde extremamente rígido, só atinge a um público muito pequeno e não há o que se possa fazer em relação a isso. Se elas estiverem satisfeitas com duas mariolas e um cigarro Iolanda, ótimo; mas não parece que elas tenham escolhido regravar essa pérola do Adoniran por acaso.

O talento das duas é inegável. Ainda por cima, ambas têm experiência com uma música mais, digamos, pop. Karina Buhr já foi integrante do Eddie; Isaar é a voz central do projeto Orchestra Santa Massa, de DJ Dolores. Então, por que todo esse purismo ariano, por que não ousar, olhar para a frente - que atrás já tem muita gente - colocar um pouco mais de harmonia no som, um pouquinho de eletrônica... deixar a coisa mais contemporânea? Por que não explorar também o visual, já que são duas mulheres bonitas? As possibilidades para elas são inúmeras e o grupo só teria a lucrar, se tentasse.

Resenha publicada no site Le Mangue - Março/2004

download Comadre Florzinha - Tocar na banda[2003]

1. Obá (Erasto Vasconcelos)
2. Sibito Baleado (Karina Buhr)
3. Tocar na Banda (Adoniran Barbosa)
4. Se o Mal (Karina Buhr)
5. Iá (Karina Buhr)
6. Zumba (Karina Buhr)
7. Gaitinha (Isaar de França)
8. É ou não é (Corumba/Venâncio)
9. Merengue pra Jesus (Alessandra Leão/Mavi)
10. Clarineto (Lourinho)
11. Eu também sei atirar (domínio público)
12. Amaralina (Karina Buhr)
13. Chumbo de vidro (Karina Buhr)
14. A cidade tá subindo (Isaar de França)

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